Gibiteca perdeu grande parte de seu acervo devido aos furtos, indo de 23 mil exemplares em 2011 para 7.340 em 2019.
Em estudos sobre o comportamento humano colecionar é definido como um processo de adquirir e possuir coisas de forma ativa, seletiva e apaixonada. O colecionador cria um grande sentimento de afetividade com seu objeto de culto.
Esta prática é muito comum nos amantes dos quadrinhos, onde há o hábito de comprar as revistas, organizar, selecionar e reservar um lugar especial para guardá-los. Para além de objeto de culto, uma coleção também ajuda a preservar a memória desta linguagem.
Em Belo Horizonte, o sr. Antonio Gobbo, bancário aposentado e escritor, é a referência de colecionador.
Antonio Roque Gobbo
Nascido em 11 de novembro de 1935, em São Sebastião do Paraíso, cidade do sul de Minas Gerais, Antonio Roque Gobbo apaixonou-se pelos quadrinhos logo na infância. Lia revistas como Gibi, Tico-Tico, Guri, Mirim, Gazeta Infantil, entre outros títulos comprados em bancas. E desde esse tempo Gobbo já emprestava seus gibis para os amigos.
Tornou-se bancário e morou em várias cidades. Em 1972 fixou residência em Belo Horizonte. Na mala, seu acervo com várias décadas de aquisições. Em 1985 resolveu disponibilizar sua coleção para acesso público em sua própria residência e criou a Biblioteca Nacional de Histórias em Quadrinhos (B.N.H.Q.). Para não prejudicar a privacidade da sua família, uma sala foi alugada no bairro Prado para ser sede da B.N.H.Q. O espaço se tornou a referência na cidade para jovens artistas e leitores. Um boletim informativo criado em 1987, o Repórter HQ, circulava trazendo muitas informações sobre o mundo dos quadrinhos.
Constituição, conservação e aumento do acervo
O gesto de generosidade do sr. Antonio Gobbo ficou ainda maior quando sua preciosa coleção foi doada para a Secretaria Municipal de Cultura em 1992. Desta ação surgiu a Gibiteca Pública dentro da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (BPIJ). As gibitecas são locais que promovem a democratização e o acesso à leitura e à Literatura, especialmente, entre crianças e jovens. Esse novo espaço tinha como objetivo a preservação dos gibis, a ampliação do número de revistas e a realização de atividades culturais que valorizassem os quadrinhos.
Na época de sua criação, foram repassadas cerca de 6 mil revistas, conforme o termo de doação. Logo nos cinco primeiros meses de funcionamento, ainda sobre a colaboração do sr. Gobbo, a Gibiteca recebeu a doação de mais três mil revistas, chegando ao final de 1992 com 9 mil exemplares.
Ao completar 15 anos, em 2007, a Gibiteca de BH já contava com 18 mil exemplares. Fonte: DOM
Em 2011, o acervo chegou a ter 23 mil revistas. Fonte: DOM
Furto de mais de 11 mil revistas
Em 2014, a Gibiteca mudou-se para o Centro de Referência da Juventude (CRJ), Centro de Belo Horizonte. Porém, em seu novo local de funcionamento, o espaço sofreu uma grande perda de revistas. A Prefeitura afirma que a Gibiteca tem hoje aproximadamente 14 mil gibis (informação oficial adquirida através da Lei de Acesso à Informação, respondida em agosto de 2018).
No sistema de controle de acervo, das 14 mil revistas apenas 1.445 exemplares estão catalogados no Pergamum.
Em moção da Assembleia dos Servidores da Cultura de BH, divulgada em agosto, os servidores denunciam que houve extravio por furto de aproximadamente 11 mil exemplares da Gibiteca, o que representa mais de 40% do seu acervo, composto de cerca de 25 mil revistas em quadrinhos no momento de sua mudança para o CRJ.
Situação em 2019
(Atualização em 01/08/2020)
Um novo pedido foi realizado em dezembro de 2019 para acompanhamento da situação do acervo.
O relatório com o retorno pela Prefeitura de BH demonstra que atualmente estão cadastrados no sistema Pergamum 7.340 exemplares.
2 comentários
Boa noite!
Td bem?
Me chamo Geovanni Cassali e sou professor de patologia da UFMG. Tenho gibis que gostaria de fazer doação para a gibiteca. Como posso proceder?
Meus contatos: geovanni.cassali@gmail.com e whatsapp 31 992930747
Cordialmente,
Geovanni
Organizei em Fortaleza a Biblioteca de Arte zsequencial em 1998, que hoje é o HQLab -Gabinete de Leitura, agora com cerca de 14 mil títulos. A dificuldade é disponibilizar o manuseio ao público, mesmo catalogando e chipando os álbuns e gibis, em 5 idiomas e contendo um pouco de tudo, especialmente os grandes clássicos, além de enciclopédias e outras obras de referência sobre quadrinhos. Busco compartilhar este acervo com quem estuda e se interessa pela Nona Arte. Somente aceito consultas dirigidas, por um valor simbólico de R$ 20 a sessão de duas horas. Talvez a criação de um instituto, voltado à promoção da leitura e da escrita, seja o futuro, observando a inaptidão do setor público para resguardar tesouros deste jaez. Lamento, Sr Gobbo, que sua boa vontade não tenha sido adequadamente cuidada pela cidadania. Abraço!