A estrutura básica de uma história em quadrinhos não é muito diferente de um roteiro para cinema ou de um livro. Ambos passam por um mesmo processo criativo, cheio de simbolismos e linguagens que buscam desencadear reações em quem entra em contato com a obra. Ao tratarmos das histórias em quadrinhos, encontramos elementos desafiadores que permeiam a criatividade e o trabalho da criação. Entre eles, o enredo, as personagens e a narrativa visual.
O ENREDO
O enredo é o caminho que a história segue e as etapas que as personagens precisarão cumprir até chegar ao final. Sua forma básica é estruturada no esquema de início, desenvolvimento e conclusão.
Como exemplo, tomaremos o caminho do herói, escrito por Joseph Campbell, famoso estudioso de mitologia. Essa estrutura de roteiro é uma das mais utilizadas por Hollywood. Em seu livro A Jornada do Herói de Mil Faces, Campbell descreve uma estrutura básica, presente em diferentes culturas, apontando suas similaridades e elaborando uma lista de características e acontecimentos comuns que acontecem no arquétipo do herói.
Cada cultura tem em sua mitologia uma forma de ensinamento que ajuda o indivíduo a entender e conhecer a si mesmo na comunidade em que vive. Sendo assim, a história é uma trilha de autoconhecimento que o herói enfrenta para ter uma vida mais proveitosa e consistente com a sociedade. Quando lemos um livro, uma história em quadrinhos, ou assistimos a um filme em cuja estrutura encontra-se o caminho do herói, os espectadores conectam-se com o personagem, pois colocam-se no lugar dele. Percebemos que aquilo faz sentido, porque compartilhamos este sentimento em nossas próprias jornadas na vida real. Sendo assim, a teoria de Campbell consegue fazer a ligação do real com a ficção que nos liga ao enredo.
PERSONAGENS
Outro ponto importante é a criação de personagens. Mostramos aos alunos os conceitos preestabelecidos que carregamos na nossa sociedade e como eles nos fazem interpretar as pessoas. Quando sabemos abordar esses conceitos, na nossa consciência comum, conseguimos direcionar o que queremos mostrar em determinados personagens. Por exemplo, com ângulos retos e pontiagudos, podemos desenhar personagens que seriam os vilões, assim como os menos espertos seriam desenhados de uma forma circular, quase infantil. Esses códigos que criamos mentalmente descrevem, de forma simples, os personagens e captam a atenção do leitor.
Tem-se, então, um grande aliado nessas aulas: A Teoria dos Arquétipos de Carl Gustav Jung, do livro O homem e seus mitos. Jung demonstra, de forma bastante eficaz, esse inconsciente coletivo que permeia a nossa sociedade, seus códigos éticos e comportamentais. Nesta lógica, os mitos logo são quebrados, permitindo ver além das simples aparências, para enxergar algo a mais nos personagens que permeiam nosso dia a dia. Podemos dizer que cada sociedade tem uma forma de exprimir e representar seus arquétipos. Seja por um destaque em seu visual, ou em outras características básicas, podemos identificar, por exemplo, se um personagem é um vilão ou herói.
Ao compreendermos isso, definimos cada personagem de acordo com sua estrutura social. Consequentemente, entendemos que, para uma maior familiaridade com a história, devemos definir, também, o local em que ela ocorre. Por isso, na maioria das histórias em quadrinhos, o primeiro quadro é um panorama que mostra o local e o tempo em que estão situadas. Assim, automaticamente, identificamos os códigos dessa sociedade e de cada personagem descrito. Portanto, em uma história que se passa em um castelo da Idade Média, já temos todos os elementos necessários para entendê-la, tais como: cavaleiros e suas armaduras, reis, rainhas, príncipes e aldeões, todos com suas características referentes à época.
NARRATIVA VISUAL
Criado o enredo e desenvolvidas as personagens, chega o momento de transformarmos a história em uma narrativa visual. É hora de colocar as ideias no papel.
A narrativa visual é a lógica de acontecimentos que, em sequência de desenhos feitos dentro de quadros, desenrola a ação. O autor procura os caminhos para que a história faça sentido e desencadeie uma resposta à mensagem que se deseja transmitir ao leitor.
O quadrinista precisa controlar o rumo da história, deixando claro o que cada quadro desenhado irá revelar. Para isso, são usadas diversas técnicas da linguagem, como os balões de fala, os recordatórios, o enquadramento de cena, a perspectiva, a técnica de luz e sombra, entre outros. Esses elementos criam um elo entre o conjunto gráfico e a comunicação com o leitor.
Segundo Will Eisner, “o sucesso ou fracasso desse método de comunicação depende da facilidade com que o leitor reconhece o significado e o impacto emocional da imagem. Portanto, a competência da representação e a universalidade da forma escolhida são cruciais. O estilo e a adequação da técnica são acessórios da imagem e do que ela está tentando dizer.”
Ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer para que possamos desenrolar uma boa sequência de fatos e contar uma história em quadrinhos, esses três elementos básicos nos dão uma base sólida para começarmos nossa jornada de criação. Precisamos estar atentos para que nossa ideia chegue inteira e possa ser compreendida sem tropeços pelos leitores. Assim, para erguer uma base sólida de conhecimentos, entramos nos conjuntos de aulas que fazem do nosso curso uma boa opção para aprender sobre a criação de uma história em quadrinhos.
Mesmo diante de públicos com idades diferentes, podemos e devemos estruturar cada aula de acordo com o grupo de alunos em questão, sem atropelos. Podemos modificar a estrutura de cada aula para atender a diferentes necessidades de cada criador. Sendo assim, nenhum modelo de aula aqui apresentado é uma âncora ou uma fórmula, aliás, cada aula tem seu aspecto próprio, pois dependemos muito das respostas e questões levantadas pelos alunos que participam e questionam os elementos propostos pelo professor.
O resultado você confere AQUI.