Pare.
Pare e respire.
Agora, veja.
Esta é a Maria. Você não a vê, mas a Maria existe. Continue lendo, pois Maria agora está andando. Ela tem um pincel na mão esquerda, mas não se recorda de como aquele pincel foi parar na mão dela. O pincel, azul e comprido, tem cerdas macias e finas na ponta, formando uma gota. Maria gosta daquele pincel, mas ela não sabe como o conseguiu. Mesmo sem saber como aquele pincel foi parar na mão dela, Maria caminha por um corredor comprido, cheio de janelas quadradas e grandes, do seu lado direito, e pinturas, várias pinturas quadradas e grandes, que ela vê, mas não entende, do seu lado esquerdo. “Será que eu as pintei?” imagina Maria, enquanto seus pés calçados em tênis surrados e de uma marca qualquer fazem um barulho estridente no chão. Barulho que nenhum tênis comum faria.
Agora, Maria – ainda agarrando o pincel em sua mão esquerda – começa a se incomodar com o barulho. Será que ela pisou em algo que grudou em seu solado, ou aquele chão tem algum problema? Será que esse corredor não tem fim? Maria não sabe quando o corredor vai acabar, mas algo a impede de olhar para trás. Sem perceber, Maria agora corre, pincel na mão, janelas voando, ela precisa correr. O corredor continua, não é um túnel com a tão conhecida luz no final. É só escuro lá na frente. Escuro e comprido. Não olha para trás, não olha para os lados. Maria, seus tênis e o pincel, apenas, continuam em frente. O suor brota de sua têmpora e começa a encharcar os cabelos cacheados, mas é para frente que Maria corre e para trás que as janelas vão.
Enquanto você lê, Maria continua correndo. O que será que vai acontecer? Quantas janelas esse corredor tem? O que são aquelas pinturas? Para onde esse corredor vai? Curioso? Não? Bom, tanto faz, porque Maria continua correndo.
Agora, imagine-se no lugar da Maria. Você olharia, com mais cuidado, para as pinturas? E se ela olhasse pela janela e percebesse que bastava pular qualquer uma delas para sair do corredor? E se o lado de fora não tivesse corredores, bordas ou lugares. Se lá fora fosse o nada e só Maria, com seu pincel, pudesse dar forma ao lado de fora?
São jornadas como a da Maria que fizeram a Nação HQ pensar, planejar, organizar e realizar os Núcleos de Quadrinhos Nação HQ: extrapolando as convenções. Todos os dias, caminhamos ou corremos em nossos próprios corredores, com pouco mais, ou muito menos do que pincéis em nossas mãos. As pinturas quadradas e grandes do nosso lado esquerdo são as convenções, passadas para nós, a cada passo que damos nesse corredor. Quem somos, de onde viemos, o que queremos, para onde vamos. Muitos de nós usamos como base para nossa interpretação de vida o que outros que passaram por aquele corredor, antes, pintaram. Mas muitos, curiosos e cansados desse caminho sem fim, olham para as janelas grandes e quadradas do lado direito. Alguns assustam-se, magoam-se, irritam-se com o que viram e decidem continuar correndo, sem olhar para trás. Outros decidem extrapolar aqueles quadros, aqueles quadrados, aqueles limites. E pulam a janela.
Com os quadrinhos, a Nação HQ encontrou a sua maneira de pular as janelas, extrapolar tudo que foi limitado e criar um novo mundo naquele vazio do lado de fora (um vazio cheio demais para ser chamado de nada). Estranho, não é? Limitar narrativas a pequenos quadros, quando estamos pulando a janela e nos afastando daqueles quadros que nos prendiam? A questão é: a narrativa está nos quadros, mas as ideias no vazio de cada janela que cada um de nós pulamos todos os dias.
Fizemos nossos núcleos para ensinar que não podemos agarrar ideias e nem nos pendurar nelas. Ideias e ideais são retidos, interpretados, refinados, liberados para o próximo na fila pular e, então, transformados em memória.
Memórias guardadas em quadros. Não quadros pendurados em um corredor. Quadros que se seguem, misturam-se e completam-se em narrativas que contam histórias.
A seguir, você pode conferir a nossa.
Nossa história sobre contar histórias.
Em quadrinhos.